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UM DILEMA NA EDUCAÇÃO: A REDUÇÃO DE MENSALIDADES ESCOLARES.


De um lado, o inegável assolamento dos salários dos pais, a urgente priorização e redução de despesas familiares, o descontentamento e desconforto com a suposta postura inflexível das escolas em não reduzir voluntariamente as mensalidades. Do outro, a manutenção dos empregos, dos professores e do próprio negócio, de uma atividade essencial para o desenvolvimento intelectual das pessoas, em qualquer grau de escolaridade, do maternal ao doutorado.

De início, é importante destacar que o problema aqui tratado diz respeito a uma classe de pessoas com condições financeiras pujantes, que até ontem podiam usufruir do ensino privado. E esse dilema é bem diferente daquele em que estão, lamentavelmente, inseridos outro grupo de pessoas, que estão preocupadas em como garantir parte da alimentação de seus filhos por meio da merenda escolar oferecida pelas instituições públicas de ensino, ou a ausência de recursos financeiros para adquirir os equipamentos indispensáveis a essa transformação dos métodos de ensino, como computadores, tablets e/ou softwares, que permitam a transferência de conhecimento de forma moderna.

Abstraindo da diferença brutal dessas realidades educacionais nas últimas décadas, é inegável que todos nós fomos arremessados, ou melhor dizendo, impulsionados a uma nova era, com uma releitura menos preconceituosa e resistente ao ensino não presencial. Aquela grande luta travada entre aqueles que defendiam os repudiados métodos futurísticos ou televisionados de ensino e os mais conservadores, adeptos à tradicional sala de aula, parece-nos ter chegado ao fim, obrigando estes últimos a reconhecerem que a aplicação dessas “novas” práticas e métodos não será realizada num espaço curto de tempo provisório em persistir a pandemia do Covid-19, pois o meio remoto de educar tende a se perpetuar.

A despeito disso, dois pontos que ainda causam um certo incomodo e desconforto: i) a ausência de ambientes de estudo preparados para os alunos se concentrarem e manterem o foco em suas residências; e ii) a indisciplina inerente a esse novo cenário, pois acertar os horários de lazer e de cumprimento de tarefas escolares em casa é um desafio compartilhado com os pais que, em sua maioria, também foram forçados a trabalhar em sistema de home-office.

Os lares, geralmente, se destinavam aos momentos de descanso e às atividades de lazer em família. Reprogramar isso, tanto nos menores quanto nos adultos, ainda é uma tarefa árdua e sem apostilas prontas. Todos nós tivemos um período improdutivo e de guerras internas para essa grande adaptação. Muitos pais de crianças do ensino maternal e fundamental tiveram ou ainda terão de contratar auxiliares para ocupar produtivamente o tempo das crianças e permitir a conciliação dos afazeres profissionais pelos pais.

Diante disso tudo, é preciso reconhecer que as atividades humanas padecem dos graves males da pandemia, mas pela mesma razão estão diante da oportunidade de rever conceitos de produção já ultrapassados. Assim como ocorre com as indústrias, escritórios e comércios, as salas de aula naturalmente também estão a sofrer mudanças. Todas aquelas horas desperdiçadas no trânsito diariamente em pequenos trechos de deslocamento nos grandes centros urbanos, para reuniões muitas vezes improdutivas serão melhor aproveitadas nas atividades de deleite ou aprimoramento.

Enfim, não restam dúvidas de que a antiga forma de viver foi brutalmente atingida, impondo uma reflexão obrigatória, que pode ser extremamente positiva.

Embora nenhum dos setores da economia não estivesse preparado para esse futuro imediato, todos nós estamos empenhados em elaborar melhores e mais eficazes modelos de produção adaptados às novas demandas. E é evidente que essas reflexões impositivas e os replanejamentos decorrentes exigem naturalmente maior e mais intenso trabalho, com mais horas de estudo do que o habitual, dada a urgência que o cenário imprime sobre todos nós. Tanto por parte dos professores, que agora precisam, além de preparar as aulas que cotidianamente ministravam, adequarem-nas aos ambientes virtuais, com gravações em vídeo, teleconferências, lives ou outras formas, quanto por parte dos diretores pedagógicos que se apressam em desenvolver e implementar métodos de controle das aulas, de frequência e, sobretudo, de avaliação do aprendizado, isso sem mencionar a necessidade de implementação das novas disciplinas focadas em estimular e extrair o melhor desempenho dos alunos nesse novo ambiente remoto.

E não podemos esquecer que tudo isso demanda investimentos custosos, tais como a aquisição de softwares, computadores, câmeras e equipamentos diversos destinados à infraestrutura dos professores, fato agravado consideravelmente pelo crescente e inevitável inadimplemento das mensalidades escolares.

Por isso, os pais e os alunos universitários que apostaram no ensino privado como meio de assegurar uma melhor formação intelectual, que poderão ostentar em seus respectivos currículos as instituições de renome contratadas, devem ater-se ao esforço descomunal dessas entidades, que, forçosamente e a toque de caixa, estão sendo desafiadas a realizar a adaptação imposta pelo afastamento social e manter a mesma qualidade na transferência de conhecimento, além de aprimorar os métodos de ensino, reciclar professores a fim de torná-los aptos e mais preparados, desenvolver ambientes virtuais intuitivos, criar avaliações mais adequadas e renovadas, sem se preocupar com a velha e vulgarmente conhecida “cola” ou quaisquer inevitáveis mecanismos de trapaça e burla, e sim estimular a pesquisa e o desenvolvimento de apresentações ou trabalhos que expressem a capacidade de apreensão das disciplinas e revelem o pensamento lógico do aluno, e tudo isso sem onerar ainda mais os pais que já se encontram combalidos financeiramente.

Ou seja, embora a revisão das prestações pecuniárias dos contratos de prestação de serviço de ensino pareça ser um reclamo de primeira necessidade e urgência para ser atendido, não se pode olvidar que a absorção desses prejuízos pelas instituições poderá conduzi-las à bancarrota e problemas ainda mais graves aos alunos. Com muita sorte, uma drástica revisão/redução das mensalidades implicaria inevitavelmente na redução de qualidade das instituições de ensino, que são destinadas a formar pessoas e profissionais mais bem preparados para uma realidade ainda mais competitiva, com ofertas escassas, e que já se prenuncia.

No contexto atual e diante de todas as dificuldades enfrentadas pelos protagonistas desta relação, a medida mais recomendada, no nosso sentir, seria a postergação do pagamento de um percentual a ser definido por cada instituição das mensalidades para o futuro, nos casos de pais ou alunos que não consigam neste momento de crise, comprovadamente, honrar com os pagamentos integrais das mensalidades em razão de redução salarial ou suspensão de seus respectivos contratos de trabalho, o que permitiria um reequilíbrio das obrigações pecuniárias dos contratos vigentes neste tempo de dificuldades e incertezas lançadas pela pandemia, sem que possamos comprometer seriamente a qualidade de ensino da instituição ou mesmo conduzi-la à falência e ao despedimento do incontáveis professores e suas famílias que delas dependam.

M. Gustavo Lima


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