Os desafios atemporais do empreendedorismo
Os altos e baixos do mercado sempre promoveram uma influência direta no sucesso das empresas de pequeno e médio porte. Quando aquecido o mercado por um ou mais setores, as pessoas se sentem mais seguras de que terão dinheiro no futuro para honrar seus compromissos, para superar momentos difíceis, algumas acreditam que tais momentos sequer existirão. Essa falsa ideia faz com que o dinheiro circule, trocando de mãos, e as pessoas satisfazem suas necessidades e desejos, e quem está no mercado oferecendo produtos e serviços tem a chance de auferir renda e acumular riqueza. Do contrário, as pessoas se retraem e o mercado consequentemente se encolhe ainda mais num ciclo vicioso. Independente desses fatores sazonais, existe um outro dado de maior relevância e que aniquila com o empresariado jovem: a falta de preparo. Poucos são os empreendedores que, antes de arriscar, fazem um curso preparatório para se inteirar de todos os aspectos que orbitam a vida empresarial, com todas as obrigações tributárias, trabalhistas, concorrenciais, de plano de negócio, entre outros. Por isso, é que a cada dia são surpreendidos com uma nova problemática não planejada, mas que era absolutamente previsível. Por incrível que possa parecer, o otimismo inerente ao empreendedor novato não lhe permite antever obstáculos básicos, e que contribui para um desanimo ao longo da jornada, quando deveria ter dispensado mais tempo planejando para não sofrer o indesejado ou pelo menos deixado na manga duas ou três alternativas de solução para aquele problema. Um número inacreditável de empresas nasce todos os dias e um número assustador delas morre antes de completarem o segundo ano de existência. Isso se deve sobretudo à falta de planejamento, que só é possível com estudo reiterado de um bom plano de negócio. O SEBRAE tem sido uma instituição fundamental nesse processo de construção de novos empresários, amparando-os do início até a desejada vida longa de uma empresa de sucesso, inclusive com projetos para aumento de performance em diversas partes da empresa. Embora ainda não exista uma faculdade específica para o empresário, talvez a mais próxima seria a administração de empresas, existem elementos como inovação, criatividade, mercado, impactos sociais e políticos, aspectos legislativos, que esse curso ainda não foi capaz de suprir na sua inteireza, dada a enorme complexidade. Além disso, o empresário isolado, de maneira geral, não reúne todos os predicados necessários para conduzir uma empresa, pois precisa se dividir em administrador, comercial e “chão de fábrica”, o fazedor. Infelizmente, a criação da modalidade da empresa unipessoal (atual EIRELI) demonstra que a união de pessoas com o mesmo propósito, sociedades com chamada “affecto societatis”, está cada vez mais em desuso. E isso não é um bom sinal. Isso apenas demonstra, infelizmente, que as pessoas não confiam mais nas outras e estamos sofrendo um processo de isolamento e afastamento, próprio de uma triste fase de desconfiança e inversão de valores, onde as pessoas são capazes de fazer trocas ruins: de importantes e inestimáveis relações por alguns centavos de real. Todos os dias eu vejo no meu escritório essa lamentável cena que se repete com a falta de transparência e interesses escusos de sócios, de casais, de irmãos. Estamos caminhando para um lugar onde a desconfiança é a regra e as pessoas devem se proteger uma das outras, no trabalho, em casa, até polícia, não apenas dos malfeitores. É um estado de aflição continuada, aparentemente sem volta. Chegou ao ponto de um dia em uma visita de apresentação do meu escritório, logo após a entrega do meu cartão e identificar minha atividade profissional de advogado, o pretenso cliente ressaltar que em sua empresa não se fazia nada de errado, como se fosse um aviso para afastar pessoas mal-intencionadas. Lamentei intimamente e, ressentido, disse que não era minha prática também, e somente depois de algum tempo, descobriríamos os amigos comuns que atestavam nossa idoneidade recíproca. Talvez seja hora de entender que o mundo é feito de pessoas boas e ruins, e não só ruins. Há uma presunção de má-fé contaminando as relações e que precisa ser combatida, mas não com um selo de autenticidade ou certificação, mas com um voto de confiança. Tudo isso impacta sobremaneira as relações no trabalho, pois sempre estamos na defensiva sem permitir que elas sejam exploradas no seu melhor. O patrão se retrai e se posta contra o empregado e vice-versa, sem que eles possam mutuamente darem o melhor de si, vivendo numa relação serpeada de medo em todas as direções, criando ambientes nocivos e sem vida. As pessoas precisam dar o seu melhor e para isso precisam se sentir “realizando” e não é o que acontecem. Há estudos que confirmam o número alarmante de que 70% das pessoas estariam descontentes com suas atividades profissionais. Isso justifica a improdutividade das empresas que ainda vivem na era do exercício do poder desproporcional, do medo e não da meritocracia, que se preocupa em tirar o melhor de seus colaboradores estimulando que sejam melhores como pessoas e, via de consequência, mais eficazes profissionalmente. Empreendedor que se preze é um eterno e incansável estudante de como fazer mais e melhor para os outros, seja o cliente, seus parceiros e funcionários. Esses desafios são silenciosos e vão tomando corpo sem chamar atenção, por isso é preciso estar fortemente preparado para não se abater e, somente assim, suplantá-los com naturalidade e sem se desesperar.